jueves, 18 de noviembre de 2010

As milícias negras no Império Ultramarino português:

GRAVURA: '''Grammatica da Língua Portuguesa com os Mandamentos da Santa Madre Igreja''' de João de Barros. Source=Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 1, nº 8, fev/mar 2006
Date=1539 Author=João de Barros (1496)
As milícias negras no Império Ultramarino português:
O esforço bélico das milícias[1] negras no Império Ultramarino Português pode ser identificado logo nos primeiros anos da expansão marítima lusitana. Um dos primeiros relatos de práticas beligerantes de homens negros na defesa de possessões portuguesas foi realizado pelo historiador português João de Barros (1496-1570). Em Décadas da Ásia, Barros exaltou a coragem e a lealdade dos escravos negros da Guiné, insistindo, junto aos seus compatriotas, no emprego destes em maior escala do que haviam feito dos mouros e berberes. Para João de Barros o potencial militar dos escravos africanos era superior aos mercenários suíços.
Durante o cerco de Ormuz (1622), Edward Monnox observou no seu diário que, acerca das táticas defensivas, “a maior parte do que foi feito, deve-se aos negros que os portugueses mandaram à frente para deitar recipientes com pólvora, com os quais muitos persas ficaram miseravelmente escalpados ou queimados”. Ainda em 1622, a ineficácia do ataque holandês feito a Macau teria sido propiciado pelas “proezas dos escravos negros” dos defensores. Os africanos, feitos escravos, também eram freqüentemente utilizados como tropas auxiliares no Ceilão. O governador de Macau, ao escrever para o vice-rei de Goa sobre os esforços para a guarnição em 1651, pediu-lhe que lhe enviasse reinóis e escravos negros, que eram duros e belicosos, ao contrário dos mestiços da Índia, que, como soldados, eram inúteis[2]. Em função dessas e de outras intervenções não se pode negar que as milícias negras estão inseridas no processo de formação da cultura militar lusitana.
O processo histórico de institucionalização e consolidação do aparato militar lusitano resultaria dos diálogos entre universos geograficamente afastados, em hibridismos e em impermeabilidades, em (re) apropriações, em adaptações e em sobreposição de representações e de práticas bélicas. As trocas ocorreriam em função da mobilidade física, e do intenso trânsito de informações e práticas dos militares, resultante de suas ações na Europa, Ásia, África e América.[3].

[1] O termo milícia será aqui empregado no sentido genérico de corpo militar. Durante todo o século XVIII, a denominação foi utilizada várias vezes de forma indiscriminada para designar tanto as tropas regulares quanto as auxiliares. Em Portugal e na América Portuguesa, a partir do século XIX, o termo Milícia passou a designar unicamente os corpos auxiliares.

[2] BOXER, Charles Ralph. O império colonial português. Lisboa: Edições 70, 1977, p. 292-293.
[3] Sobre o processo de mundialização ibérica ver: GRUZINSKI, Serge. Les quatre parties du monde: Histoire d’une mondialisation. Para as características do universo cultural em Minas Gerais ver: PAIVA, Eduardo França. Escravidão e Universo Cultural na Colônia: Minas Gerais, 1716-1789.
http://www.klepsidra.net/klepsidra27/milicias.htm

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